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Ex-hacker denuncia militar por vídeo de ataque dos EUA

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    Ex-hacker denuncia militar por vídeo de ataque dos EUA


    Foi no mês passado que o especialista Bradley Manning, 22 anos, analista de inteligência para as forças do exército norte-americano estacionadas no Iraque, procurou um ex-hacker a quem aparentemente via como uma alma irmã.

    Em uma semana de intenso contato no final de maio, Manning e Adrian Lamo, o antigo hacker, trocaram múltiplas mensagens instantâneas sobre o que Lamo descreve como "os problemas pessoais de Manning com as forças armadas".

    Mas ao longo das conversas, contou Lamo em entrevista por telefone na segunda-feira, Manning também assumiu o crédito pelo vazamento de um vídeo sigiloso e explosivo quanto a um ataque por um helicóptero norte-americano em Bagdá, que causou 12 mortes, entre as quais as de dois funcionários da agência de notícias Reuters. O vídeo foi veiculado pelo site de denúncias Wikileaks.org em abril.

    E havia mais: Manning também alegava ter encaminhado ao Wikileaks 260 mil mensagens diplomáticas norte-americanas em telex, e um vídeo de um ataque aéreo norte-americano no Afeganistão que resultou na morte de 97 civis, no ano passado, segundo Lamo. "Ele estava apanhando toda informação que pudesse e tentando passá-la adiante de qualquer forma".

    Por isso, o antigo renegado, que em 2004 se confessou culpado por violar o sistema interno de computadores do New York Times, fez algo que não esperava quando Manning primeiro o contatou: denunciou o soldado.

    Na segunda-feira, o Departamento da Defesa norte-americano anunciou que Manning, de Potomac, Maryland, havia sido detido e estava sob investigação. Um comunicado curto informava que Manning, no momento em serviço com a 2ª Brigada da 10ª Divisão de Montanha, em Bagdá, estava no Kuwait, em confinamento pré-julgamento, "pelo suposto vazamento de informações sigilosas".

    Não se sabe se Lamo é a principal fonte das acusações a Manning, ou se as forças armadas obtiveram outras provas. O Pentágono se recusou a discutir a investigação.

    Familiares de Manning não foram localizados para comentar, mas o blog Threat Level, da revista Wired, que divulgou a notícia da detenção e do papel que Lamo desempenhou para isso, reportou que o pai do soldado, Brian Manning, do Oklahoma, estava chocado.

    "Eu servi nas forças armadas por cinco anos", teria dito Manning, de acordo com a Wired. "Tinha acesso a informações sigilosas, e não revelei nenhuma delas nos 30 anos que se passaram desde que encerrei meu serviço. E Brad sempre foi muito, muito rigoroso quanto ao cumprimento das regras. Mesmo em conversas sobre seu período de treinamento inicial, ele mantinha as informações sob o mais severo controle e não se abria". Manning disse à Wired que seu filho "é um bom menino. Nunca enfrentou problemas. Nunca usou drogas, álcool, nada disso".

    O vazamento do vídeo sobre o ataque do helicóptero, ao qual o Wikileaks intitulou "Homicídio Colateral", causou séria consternação no Pentágono, cujos dirigentes estão cada vez mais preocupados com tecnologias que facilitam postar documentos, imagens e vídeos online de forma anônima. Em abril, o secretário da Defesa Robert Gates criticou o vídeo do helicóptero como uma "visão da guerra por um canudinho de refrigerante".

    Mas oponentes da guerra no Iraque afirmam que o vídeo oferece prova irrefutável de um erro dos militares e que não deveria ter sido classificado como sigiloso.

    O episódio também atraiu ampla atenção para o Wikileaks, um site até recentemente quase desconhecido cujo objetivo é revelar informações sobre governos e grandes empresas. O serviço foi criado três anos atrás pelo ativista e jornalista australiano Julian Assange, e já havia veiculado documentos sobre despejo de lixo tóxico na África, protocolos quanto ao tratamento de prisioneiros na Baía de Guantánamo e mensagens da conta pessoal de e-mail de Sarah Palin.

    Em entrevista na segunda-feira, Lamo disse ter contatado o exército quanto às mensagens instantâneas de Manning porque estava preocupado com a possibilidade de que as informações reveladas colocassem vidas em risco. Ele disse que os investigadores do exército estavam especialmente preocupados com uma informação de alta sensibilidade e de que Manning dispunha; Lamo não quis discuti-la.

    "Eu pensei comigo mesmo que alguém poderia morrer caso aquela informação fosse divulgada", disse.

    Até agora, o Wikileaks não postou imagens do ataque aéreo norte-americano no Afeganistão, ainda que alegue ter o vídeo em sua posse. Há informações de que o vídeo do Afeganistão, como o do helicóptero, foi criptografado, ou seja, conta com a proteção de um código secreto. O Wikileaks informou que conseguiu decifrar o vídeo do helicóptero depois de meses de trabalho. Lamo declarou na segunda-feira que, até onde sabia, o site ainda não tinha decifrado o vídeo do Afeganistão.

    Em mensagens via Twitter na segunda-feira, o Wikileaks denunciou Lamo e Kevin Poulsen, autor do extenso post sobre o caso no blog Threat Level, como "notórios criminosos, informantes e manipuladores", e disse que "os jornalistas deveriam se precaver". O Wikileaks também alegou que a informação de que 260 mil mensagens diplomáticas sigilosas lhe teriam sido enviadas "é incorreta até onde podemos apurar".

    Lamo, contatado na casa de seus pais em Carmichael, Califórnia, disse que entregou aos investigadores do exército cópias de seus chats com Manning, e que elas continham muitas informações pessoais que poderiam revelar indícios sobre a motivação de Manning, caso ele seja de fato o responsável pelo vazamento.

    Perguntado sobre o que entendia serem os motivos de Manning, Lamo disse que são ideológicos. "Creio que ele estivesse insatisfeito com certas normas militares e que desejasse afetar de forma adversa a política externa dos Estados Unidos". Lamo não ofereceu outros detalhes. "Para mim é assunto pessoal, e não creio que a família dele gostaria de vê-lo discutido na mídia nacional", afirmou.

    Lamo, 29, disse ter expresso a Manning suas preocupações, ao longo das conversas. "Disse que ele estaria seriamente enrascado se fosse apanhado", contou. "Em retrospecto, talvez eu devesse ter me esforçado mais para argumentar com ele".

    Lamo disse ainda ter prometido às autoridades que deporia contra Manning. "Manterei a promessa, mas a contragosto", disse. "Espero que os pais dele me perdoem. Lamento o que aconteceu ao menino deles. Mas eu estava em um dilema ético".

    Na segunda-feira, Lamo continuou a discorrer sobre o tema, no Twitter. !Denunciei Brad Manning pelo suposto vazamento por senso de dever", afirmou. "Jamais teria denunciado, e nunca denunciei um Criminoso Comum Decente. Há uma diferença".

    Em outra mensagem, Lamo escreveu: "Sei como é ter 22 anos, estar assustado e algemado. Passei pelo mesmo. Espero que nenhum de vocês tenha de fazer escolha como a minha".

    Depois que se admitiu culpado por invadir as redes do The New York Times ¿ ele também invadiu computadores do Yahoo, Microsoft e WorldCom -, Lamo foi sentenciado a seis meses de prisão domiciliar na casa dos pais e dois anos de liberdade vigiada. Declarou em entrevista que via diferença de gravidade entre invadir o computador de um jornal, o que ele admite ser errado, e comprometer a segurança nacional.

    Lamo contou que foi abordado por Manning em 20 de maio, depois que um post no blog Level of Threat descreveu os problemas do ex-hacker com a Síndrome de Asperger e seu histórico como hacker.

    Fonte: TheNewYorkTimes por Elisabeth Bumiller.
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